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ÁFRICA – ASPECTOS REGIONAIS

Como regionalizar a África?

1- A diversidade regional no interior do continente africano é muito grande. Todavia, comparada com os demais continentes, a África é mais homogênea por não apresentar grandes disparidades no nível de desenvolvimento. Existem sim diferenças significativas – por exemplo, entre uma África do Sul e uma economia extremamente pobre como a Costa do Marfim –, mas não há aí nenhum país que possa ser considerado desenvolvido.

1.1-Todas as economias africanas são subdesenvolvidas ou do Terceiro Mundo. Não existe na África nenhum país que tenha superado alguns problemas sociais básicos para grande parte de sua população: todos eles, em maior ou menor grau, possuem médios ou elevados índices de anafalbetismo, falta de moradias populares, sistema educacional e de saúde deficientes, etc.

1.2-O país mais industrializado do continente e também o mais rico em recursos minerais é a África do Sul. Porém, esse país possui também imensos problemas de pobreza absoluta por ter uma péssima distribuição social de renda: a minoria branca (17% do total) fica com aproximadamente 75% da renda nacional, ao passo que a maioria negra (70% do total) fica cm menos de 20%. E aos 13% restantes, constituídos por mestiços e asiáticos, cabem 5%.

1.3-Dessa forma, a maioria da população africana tem em comum o fato de viver em estado de extrema pobreza, embora os países africanos sejam muito diferentes uns dos outros, o que explica as dificuldades em regionalizar esse continente. Apesar disso, costuma-se dividir a África em duas formas principais: de acordo com a localização de cada parte do continente e com os traços étnicos e culturais.

1.4-A primeira divisão regional, mais tradicional, baseada na localização de cada região geográfica, reconhece 5 grandes conjuntos:

    • África do norte (ou setentrional) → Compreende os seguintes países: Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Sudão, Eritréia e Etiópia.
    • África ocidental → Abrange as seguintes nações independentes> Mauritânia, Mali, Senegal, Guiné-Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benin, Burkina Fasso, Níger, Gâmbia, Nigéria e Cabo Verde. Pode-se incluir também nesse conjunto o território do Saara Ocidental, atualmente sob o domínio do Marrocos.
    • África central → Engloba Chade, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, Congo, Rep. Centro-Africana, São Tomé e Príncipe e República Democrática do Congo (antigo Zaire).
    • África oriental → Contém: Djibuti, Somália, Uganda, Quênia, Ruanda, Burundi e Tanzânia.
    • África meridional (ou austral) → Inclui os seguintes países: Angola, Zâmbia, Malauí, Zimbábue (antiga Rodésia), Moçambique, Botsuana, Lesoto, Suazilândia, África do Sul, ilhas Comores, Maurício, Seychelles e Madagascar. Pode-se situar aqui também a Namíbia, sob o controle da África do Sul até fevereiro de 1990, ocasião em que adquiriu a sua independência, apesar da frágil economia.

1.5-A segunda regionalização da África, cada vez mais utilizada na atualidade, baseia-se em fatores étnicos e culturais (religiões e etnias predominantes em cada região) e assinala a existência de dois grandes conjuntos regionais:

    • África Branca → Constituída por Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Sudão, Eritréia, Etiópia e Mauritânia.
    • África Negra (ou subsaariana) → É formada pelos outros 44 países do continente.

África Branca

2- A África Branca é formada por países onde predominam os povos de pele branca. Com exceção da Eritréia, da Etiópia e do Sudão, em geral os povos que habitam essa parte da África são de origem árabe. Aí, a religião muçulmana predomina de forma absoluta.

2.1-Essa porção da África representa uma continuação do Oriente Médio, que fica na Ásia, do outro lado do canal de Suez, construído entre os continentes africano e asiático para ligar o Mar Mediterrâneo ao Vermelho.

2.2-Povos árabes ou de troncos étnicos comuns – israelitas, camitas, turcos – habitam o Oriente Médio e a África setentrional, que apresentam a mesma paisagem natural. Nessas imensas regiões predomina o clima desértico, só amenizado nas áreas litorâneas e nas margens dos rios, principalmente o Nilo. Assim como no Oriente Médio, a grande riqueza dessa parte do continente africano é o petróleo.

O Magreb, o Saara e o Vale do Nilo

3-Considerado o meio físico e sua ocupação pelo homem, a África setentrional possui três áreas mais ou menos distintas: o Magreb, o Saara e o vale do Rio Nilo.

  • O Magreb corresponde à porção ocidental do norte da áfrica, onde se localizam o Marrocos, a Argélia e a Tunísia (a palavra Magreb, em árabe, significa ‘onde o sol se põe’). O relevo dessa área é montanhoso e o clima é subtropical mediterrâneo: o verão é quente e seco, o inverno é frio e chuvoso. As maiores cidades e as principais atividades econômicas estão na faixa litorânea, onde se cultivam espécies mediterrâneas, como a oliveira e a videira.
  • O Saara, localizado no norte continente africano, vai desde o Oceano Atlântico até o Mar Vermelho, estendendo-se por vários países. O clima aí é seco o ano todo, com forte calor durante o dia e grande esfriamento durante a noite. A densidade demográfica dessa área é baixíssima, e as atividades econômicas são poucas.
  • O Vale do Nilo abrange as terras do Egito e do Sudão, localizadas nas margens do Nilo, o único rio a atravessar o deserto do Saara de sul a norte. Esse rio, que foi importante para a extraordinária civilização egípcia, fornece até hoje água e ótimos solos para a agricultura. Existe até um ditado que diz: “o Egito é uma dádiva do Nilo”.
  • Por corresponder às aras mais férteis e úmidas da África, o vale do Nilo forma uma espécie de imenso oásis no meio do deserto, constituindo as margens do rio uma faixa de terras férteis e superpovoadas. Aí se encontram a maioria da população e as principais cidades do Egito (Cairo, Alexandria e El Giza) e do Sudão (Cartum e Ondurmã).

O petróleo e outras atividades econômicas

4-A grande riqueza da África Branca é o petróleo, encontrado principalmente na Líbia e na Argélia, os dois países com maior renda per capita dessa região. Também o Egito e a Tunísia exportam petróleo, mas em quantidades bem menores.

4.1-Outras atividades econômicas importantes dessa parte da África são:

    • Turismo → Especialmente no Egito, onde estão localizados importantes monumentos históricos, como as pirâmides; e no Marrocos.
    • Mineração → Com destaque para o fosfato e o manganês.
    • Agricultura → Cultivo de azeitonas, frutas cítricas, tâmaras, trigo e algodão.

4.2-O padrão de vida da população em geral é baixo, mesmo nos países que exportam bastante petróleo. A distribuição social de renda é muito desigual, com uma minoria de ricos e uma maioria vivendo em condições precárias.

África Negra, ou subsaariana

5- Abrangendo a maior parte do continente (do Saara para o sul) e da população africana, a África Subsaariana é constituída por 44 Estados independentes. É a “verdadeira África”, nos dizeres de alguns especialistas. É a África dos povos negróides, dos Estados constituídos artificialmente (ou seja, onde geralmente existem várias etnias num mesmo estado nacional, cada uma com seu idioma e sua cultura, sem haver verdadeiramente uma nação).

5.1-Comparada com a África Branca, a África Subsaariana é bem mais heterogênea, isto é, apresenta maiores diversidades. Existem aí maiores diferenças econômicas, culturais, étnicas e até mesmo naturais. Há paisagens desérticas, onde as condições de vida em geral são extremamente precárias (especialmente no norte do Mali, no Níger, no Chade, embora também no sul, em Botsuana e no Zimbábue), mas também existem paisagens tropicais exuberantes, que permitem a agricultura e a pecuária.

África ocidental

6-Situados ao redor do golfo da Guiné, a oeste, e com o deserto do Saara ao norte e leste, os países da África ocidental apresentam uma grande diversidade de paisagens. O rio Níger e seus afluentes atravessam essa região, numa área de clima equatorial. Mais ao norte, o clima vai se tornando seco, desértico. A maioria da população concentra-se ao longo do litoral e, principalmente, junto à foz do rio Níger.

6.1-Os paises desse conjunto regional africano são pouco industrializados, com uma economia baseada na mineração (minério de ferro, bauxita, urânio, ouro, diamante, carvão, etc.) e na agricultura de exportação (algodão, amendoim, cacau, café, etc.). Algumas das menores rendas per capita do mundo pertencem a esses paises, e também algumas das menores expectativas de vida para a população em geral.

6.2-A Nigéria, o país mais populoso de toda a África (130 milhões de hab. Em 2002), destaca-se nesse conjunto e constitui a verdadeira “potencia” de toda a África Subsaariana, com exceção da África do Sul. O território nigeriano é relativamente grande (923.768 km²), o que é significativo nesse continente que em geral acabou sendo dividido em pequenos territórios. Além disso, a Nigéria merece destaque por ter uma economia exportadora de petróleo. É o país mais industrializado da África ocidental. Conta com algumas filiais de empresas estrangeiras (automobilísticas, alimentícias, de bebidas e de óleo de algodão), que aí se instalaram por causa da mão-de-obra barata e das facilidades para exportação. Possui uma grande dívida externa, a segunda de toda a África, inferior apenas à do Egito.

África central

7-Os países que compõem a África central localizam-se na bacia do rio Congo, na parte centro-ocidental do continente. A única exceção é São Tomé e Príncipe, duas ilhas atlânticas, próximas ao golfo da Guiné. O clima dessa região é equatorial, quente e úmido, tornando-se mais seco, tipicamente tropical, para o sul. A maioria da população concentra-se próximo ao litoral ou na bacia do Congo.

7.1-Para atravessar uma área de planaltos, juntamente com seus principais afluentes, o rio Congo, de grande volume de água, possui enormes e freqüentes desníveis, o que faz dessa bacia hidrográfica a mais rica do mundo em potencial hidráulico. Mas esse potencial ainda é pouco explorado: as usinas hidrelétricas são raras e de pequena capacidade.

7.2-Esse conjunto regional africano, de fato, é muito pouco industrializado. Todos os países da África central são pobres e possuem uma economia baseada na mineração, voltada à exportação, e na agropecuária, com agricultura de plantation. Os principais bens de exportação desses países são: algodão, cacau, tabaco, ouro, diamante, zinco, café, amendoim e madeira.

África oriental

8-Localizada na porção centro-oriental do continente, a África oriental é cortada pelo Equador no centro e limitada a leste pelo Oceano Índico. De forma geral, essa é a região de terras elevadas da África, onde se alternam montanhas, planaltos, depressões que dão origem a lagos. O nordeste do continente, no local onde se encontra a Somália, tem a forma de um chifre, e por isso, esse país é conhecido como Cifre da África.

8.2-A economia dos países da África oriental é pouco desenvolvida. A industrialização é pequena e a renda per capita é baixa. Predomina aí a agricultura de plantation, voltada para exportação. Cultivam-se café, algodão, chá, banana, etc. Como em quase toda a África Subsaariana, os países dessa porção do continente apresentam graves problemas de subnutrição e carência de alimentos, que, muitas vezes, tem de ser importados.

África meridional, ou austral

9-Os países da África meridional, como o próprio nome indica, ficam ao sul do continente, depois da bacia do rio Congo e dos lagos Tanganica e Niassa. Localizam-se, portanto, na parte mais afunilada da África, entre os Oceanos Atlântico e Índico. Alguns países dessa porção da África situam-se em ilhas, no oceano Índico: Madagascar, comores, Mauricio e Seychelles.

9.1-A importância desses territórios da África austral está em sua extraordinária riqueza mineral. Existem aí petróleo, explorado em Angola; carvão, em Moçambique, na África do Sul e no Zimbábue; ouro e diamante na África do Sul, que é o maior produtor mundial, urânio, em Madagascar e na África do Sul e minérios de ferro e manganês, encontrados em quase todos os países desse conjunto regional.

9.3-A África do Sul é o único país africano que possui litoral nos Oceano Atlântico e Índico. Por essa razão e por situar-se no extremo sul africano – ponto de passagem da Europa e da América para o Oriente Médio ou Ásia – esse país tem uma posição geográfica favorável, considerada mesmo estratégica, isto é, de grande importância militar e econômica. É seguramente o país que, pelas suas dimensões (1.211.037 km²), possui a maior concentração mundial de riquezas minerais: ouro, diamante, carvão, minérios de ferro e manganês, urânio, platina, cromo, vanádio, titânio, etc.

9.4-A Republica da África do Sul é o país mais industrializado de todo o continente. Alguns autores chegaram até a colocar esse país no Primeiro Mundo, mas isso é um enorme exagero. De fato, a África do Sul possui uma elevada industrialização, que, contudo, é menor que a de muitos países do Terceiro Mundo, como a do Brasil ou do México, por exemplo. Apresenta também um alto padrão de vida para a minoria branca, descendente dos ex-colonizadores holandeses ou ingleses. Mas o que prevalece é uma baixa qualidade de vida para a imensa maioria da população, principalmente para os negros (70% da população total) e para os mestiços (10%) e os asiáticos (3%).

9.5-Não é possível entender a atual situação da África do Sul sem lembrar o seu sistema oficial de racismo, o apartheid, que foi eliminado somente em 1994. Esse sistema de segregação racial foi criado pela minoria branca, detentora do poder e da riqueza, com o objetivo de controlar a maioria negra e de manter o modelo econômico baseado na superexploração da força de trabalho.

9.6-O apartheid foi implantado no país após a independência diante da Inglaterra, em 1961, e fez parte da Constituição do país vigente até abril de 1994. Assim, durante mais de três décadas, a África do Sul possuiu um racismo oficializado, isto é, determinado pelas leis do país, que estabeleceram direitos desiguais de acordo com a cor da pele.

9.7-Antes de se oficializar a discriminação, já havia enormes desigualdades entre brancos e negros na África do Sul, pois uma das bases do colonialismo é exatamente a divulgação pelos colonizadores de sua “superioridade” racial em relação aos colonizados.

9.8-Com a descolonização do continente, os países independentes passaram a ser governados pelos próprios africanos. Porém, na África do Sul, o novo governo, representante da minoria branca, achou que era necessário oficializar as diferenças étnica para manter os privilégios dos brancos e evitar uma maior participação dos negros nas decisões. Além disso, ampliaram-se as diferenças entre brancos e negros, e também mestiços e asiáticos, em menor proporção. Em 1945, por exemplo, o salário pago a um negro correspondia a 25% do que era pago a um branco, para realizar a mesma tarefa. Já em 1970, esse salário recebido por um negro equivalia a somente 17% do que um branco recebia pelo mesmo serviço.

9.10-Algumas leis rigorosas foram criadas, regulamentando que por exemplo, nenhum negro tinha o direito de adquirir terras; era proibido o casamento de brancos com pessoas de outra cor; era proibido o acesso de negros a certos hotéis, restaurantes de luxo, etc. era necessário um passe, ou seja, uma autorização para os negros viajarem de uma cidade a outra dentro do país; um africano não podia hospedar ninguém em casa, nem mesmo parentes, por mais de 72 horas. Tudo isso representou uma tentativa de controlar melhor a maioria negra, de evitar que ela se organizasse e lutasse contra o regime imposto pela minoria branca. Apesar de já não existir mais oficialmente e ter sido bastante amenizada na prática, essa discriminação ainda conserva inúmeros traços, como nas áreas residenciais, onde em geral os brancos tem os seus bairros exclusivos, limpos, com boa iluminação, água encanada, telefone, habitações amplas, etc., ao contrario da maioria dos negros.

9.11-Em 1990, após forte pressão internacional, o governo da África do Sul tomou diversas medidas com o objetivo de abrandar o regime de apartheid e, ao mesmo tempo, promoveu reformas no campo político. A partir de abril de 1994, com a realização das primeiras eleições livres e multirraciais na África do Sul para os cargos legislativos e para a presidência da Republica, desapareceu oficialmente o apartheid. Uma nova constituição foi elaborada e nela não mais existe a segregação racial.

9.12-A África do Sul neste inicio de século representa uma espécie de laboratório para grande parte do continente, uma experiência que, se for bem-sucedida, poderá ser repetida em dezenas de outros países. o novo governo da África do Sul tem a dura tarefa de evitar uma guerra civil (entre brancos e negros, entre grupos étnicos negros diferentes e entre estes e os indianos) e construir uma democracia multirracial nos país, algo que nunca existiu em nenhum país da África.

 

ATIVIDADES

 

  • Mencione quais são as duas regionalizações do continente africano e os critérios de cada uma delas.
  • Como é em gera a economia da África Branca?
  • Qual é o país mais industrializado da África Negra e de todo o continente? Por que ele é tão importante para os demais países africanos?

 

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