Angústia resumo

 

 

 

Angústia resumo

 

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Angústia resumo

 

Angústia

I – O Movimento Literário – 2ª fase do Modernismo

  • Fase de consolidação
  • Recuo quanto às propostas mais radicais da 1ª Geração
  • Literatura Regionalista : neo-realismo e neo-naturalismo
  • preocupação com a denúncia social
  • Literatura intimista: sondagem profunda do “eu”
  • preocupação com o aspecto espiritual do homem brasileiro

 

II – O Autor

“Em termos de romance moderno brasileiro, representa o ponto mais alto da tensão entre o eu do escritor e a sociedade que o formou.(...) Cada romance é um questionamento novo, que propõe uma linguagem adequada.” ( A..Bosi )

  • sua obra tem sempre caráter crítico.
  • o herói é sempre problemático: ñ aceita o mundo,os outros, a si mesmo
  • sem predomínio do regionalismo, pois o que interessa é o psicológico
  • objetivação verbal - linguagem sem adorno
  • temas que exploram o tenso e profundo
  • A leitura não corre porque é interrompida pela pontuação, técnica que reflete na vida da personagem, onde a vida não flui: está entrecortada pela necessidade de resolver o problema da sobrevivência.

 

III – A Obra (1936 – Romance de confissão)

  • Livro fuliginoso e opaco (escuro, sombrio)
  • Raro encontrar na nossa literatura estudo tão completo da frustração.
  • A solidão interior do homem e a sua luta para a afirmação da própria personalidade. Tal solidão brota da rejeição afetiva, da infância sem amor e leva à luta pela própria afirmação dentro do meio.
  • A narrativa assemelha-se a diários íntimos, dolorosas confissões de culpas dramáticas. Aos poucos, o narrador se desnuda e se desvenda.

 

"Sou um bípede, é preciso ter a dignidade dos bípedes."

 

IV – O Narrador e o Tempo

  • Narrador primeira pessoa protagonista: uso de monólogo interior
  • Narrador não é onisciente: tonalidade egocêntrica.
  • O livro parece ao leitor as horas de um longo pesadelo.
  • Todo fato é estimulado para Luís repassar acontecimentos e sentimentos da infância, quanto pesam na vida de adulto.
  • O tormento descrito tem a duração de menos de um ano:

"Foi lá que vi Marina pela primeira vez, em janeiro do ano passado. E lá nos tornamos amigos."

 

 

V – Personagens

  • Luís da Silva: é a personagem-narradora. Um homem emocionalmente de nervos estilhaçados, 35 anos, "funcionário público, homem de ocupações marcadas pelo regulamento.(...) Um sujeito feio: olhos baços, o nariz grosso, um sorriso besta e a atrapalhação, o encolhimento que é mesmo uma desgraça.(...) Habituei-me a escrever, como já disse. Nunca estudei, sou um ignorante, e julgo que os meus escritos não prestam. (...) Trabalho num jornal. À noite dou um salto por lá, escrevo umas linhas.(...)"

 

  • Marina: "Cabelos de milho, unhas pintadas, beiços vermelhos e o pernão aparecendo." Marina é uma mulher vulgar, muito jovem, ambiciosa ao extremo, aparece como a vizinha nova do narrador, por quem ele se apaixona. "Era uma sujeitinha vermelhaça, de olhos azuis e cabelos tão amarelos que pareciam oxigenados."

 

  • Julião Tavares: rico, gordo e vermelho, bacharel, metido a patriota. Falava bem, tinha boa aparência e seduzia as moças pobres, abandonando-as a seguir. Luís conhece-o uma noite no Instituto Histórico, mas passa a odiá-lo pelo seu jeito acanalhado: "Tudo nele era postiço, tudo dos outros."

 

  • Dona Adélia: Mãe de Marina; queixa-se freqüentemente de tudo e é a responsável, segundo a ótica do narrador, pela "perdição da filha". Estimula-a a casar-se como se fora um arranjo e joga-a de encontro a Julião, quando descobre que ele era rico, aceitando os presentes, a comida.

 

Seu Ramalho: Pai de Marina, um velho decente, sistemático e enfarruscado, avisa Luís de que a filha não é lá grande coisa; torna-se amigo de Luís da Silva quando Marina o abandona para ficar com Julião.

 

  • Seu Ivo: É uma alma infeliz que vaga pela rua, bebe o tempo inteiro e vem comer na casa de Luís.

 

  • Moisés: judeu amigo do narrador. É credor de Luís, mas envergonha-se de cobrar o amigo, evitando encontrá-lo na rua. Quando inevitavelmente o faz, ao receber uma prestação (atrasadíssima) diz que elas já se acabaram e restabelece a amizade, para discutir assuntos, beber e freqüentar a casa. Moisés é socialista, fala pausadamente e é um pessimista inveterado.

 

  • Vitória: a criada do narrador; tem cinqüenta anos, é meio surda, terrivelmente feia e tem como costume enterrar moedas à noite, no quintal, quando Luís dorme. À noite, raramente descansa: conta as moedas do salário, reza e fala sozinha.

 

  • Pimentel : chefe na repartição de Luís

 

  • Camilo Pereira da Silva, Velho Trajano, Amaro Vaqueiro

 

 

 

VI – Enredo

  • O romance psicológico constrói-se exatamente pelo registro do fluxo de consciência dos personagens, e é impossível resumir esse movimento de vaivém incessante, com seus saltos e suas lacunas...
  • Não existe numeração na divisão dos capítulos

"Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios. Há criaturas que não suporto. Os vagabundos, por exemplo. Parece-me que eles cresceram muito, e , aproximando-se de mim, vão gemer peditórios: vão gritar, exigir, tomar-me qualquer coisa.(...)Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos, que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de velho, fracas e inúteis. As escoriações das palmas cicatrizaram. "

  • O narrador  anuncia que pôs-se em pé novamente há apenas trinta dias.
  • Na narração: misturam-se fatos e ele diz que a mãos cicatrizaram.
  • O que de tão dramático aconteceu que o impede, inclusive, de trabalhar com sossego agora?
  • "Impossível trabalhar. Dão-me um ofício, um relatório para datilografar, na repartição. Até dez linhas vou bem. Daí em diante a cara balofa de Julião Tavares aparece em cima do original, e os meus dedos encontram no teclado uma resistência mole de carne gorda. E lá vem o erro. Tento vencer a obsessão, capricho em não usar a borracha. Concluo o trabalho, mas a resma de papel fica muito reduzida."
  • Aparecerá em seguida o pivô desses acontecimentos: Marina. "Em duas horas escrevo uma palavra: Marina. Depois, aproveitando as letras deste nome, arranjo coisas absurdas: ar, mar, rima, arma, ira , amar."Os ratos também povoam estas lembranças: brigam dentro do armário da cozinha, ou aparecem na definição que o narrador dá de si mesmo: "colo-me à parede como um rato assustado."
  • Luís está com o aluguel atrasado e o Dr. Gouveia envia-lhe bilhetes de cobrança; deve ainda a luz, as prestações de Moisés e uma promissória de quinhentos mil réis, que já foi reformada.
  • O narrador lamenta-se. Diz que se pudesse, voltaria a viajar. Considera que a vida que leva "agarrada à banca das nove horas ao meio-dia e das duas às cinco, é estúpida. Vida de sururu."
  •  Observa que gostaria de afastar Marina do seu pensamento e pensa sobre seu próprio cadáver, magro e com os dentes arreganhados. Repete que não é um rato, que não quer ser um rato e mistura ao tempo presente lembranças remotas, da época da infância:

"Volto a ser criança, revejo a figura de meu avô, Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, que alcancei velhíssimo, os negócios na fazenda andavam mal. E meu pai, reduzido a Camilo Pereira da Silva, ficava dias inteiros manzanzando numa rede armada nos esteios do copiar, cortando palha de milho para cigarros, lendo o Carlos Magno, sonhando com a vitória do Partido que Padre Inácio chefiava."

  • Há quinze anos, era tudo diferente: dividia o quarto que morava com Dagoberto, que era estudante e repórter, havia um calor infernal e um cheiro de gás invadia o ar.
  • Idéias surgem fragmentadas que se presentificam com observações pessimistas
  • Misturam-se lembranças do pai, do avô Trajano e da avó Germana. Lembra-se do Mestre Antônio Justino : "Aprendi leitura, catecismo, a conjugação dos verbos. (...) Eu ia jogar pião, sozinho, ou empinar papagaio. Sempre brinquei só."
  • Chove: uma chuva renitente e fina encharca todas as coisas.
  • Marina é pensamento recorrente. Ele a imagina ali, sob a chuva, "Marina despida ,arrepiada, coberta de carocinhos - bole comigo durante alguns minutos."
  • De novo a infância invade suas recordações, lembrando-se de quando chovia e ele, cavalgando um cavalo de pau, disparava debaixo d'água
  • Lamenta a qualidade de um artigo encomendado pelo chefe
  • Lembra-se do poço da Pedra onde o pai o levava para aprender a nadar, imagina que poderia, tal como o pai fazia com ele, obrigando-o a nadar, fazer o mesmo com Marina: "Se eu pudesse fazer o mesmo com Marina, afogá-la devagar, trazendo-a para a superfície quando ela estivesse perdendo o fôlego, prolongar o suplício um dia inteiro..."
  • Olha o quintal vizinho, lembra de Marina. Os desejos gritam fortes. Observe bem isso: são os desejos e não os sentimentos que gritam fortes: "Lá estão novamente gritando os meus desejos.(...) Um arrepio atravessa-me a espinha, inteiriça-me os dedos sobre o papel. Naturalmente são os desejos que fazem isto, mas atribuo a coisa à chuva que bate no telhado e à recordação daquela peneira ranzinza que descia do céu dias e dias."
  • Os distúrbios do inconsciente aparecem; confunde o tempo, pensa em Marina e na infância, ouve barulhos que na realidade estão perdidos na infância, para sempre.
  • A lembrança conduz o narrador a imagens da morte do pai. Ele estava na escola, tinha 14 anos e, ao voltar para casa, encontrara o pai morto
  • Sentindo-se infeliz e sozinho, Luís foi sentar-se no fundo do quintal. "Eu estava ali como um bichinho abandonado(...) Que ia ser de mim, solto no mundo?(...) Agora eu tinha 14 anos, conhecia a mão direita e os verbos."
  • Estava sozinho e não conseguia chorar.
  • Após o enterro do pai, os credores levaram quase tudo; sumiram os amigos, entre eles o padre Inácio.
  • Com medo da alma do pai, passou noites e dias enrolado num cobertor, a um canto da sala.
  • Aqui, outra vez, é possível observar a perturbação emocional de Luís da Silva:"Que estaria fazendo a alma de Camilo Pereira da Silva? Provavelmente rondava a casa, entrava pelas portas fechadas, olhava as prateleiras vazias. As outras almas mais antigas, (...), não me atemorizavam; mas aquela, estava tão próxima, ainda agarrada ao corpo, dava-me tremuras. O suor corria-me pelo rosto.”
  • Seu Ivo vai visitar Luís. Sempre que chega  faz agrados ao gato e ao papagaio. Luís evita olhar para ele e somente no final da narrativa é que você entenderá o  porquê.
  • Depois, ouve o relógio bater oito e meia e o confunde com o sino da igreja, sai correndo para o trabalho, com a impressão de que lhe falta algo no vestuário, tem a impressão de que os transeuntes olham-no espantados, sente que não consegue se mexer, imóvel como o pai morto.
  • A narrativa assume a semelhança de um diário: "Este mês fiz um sacrifício: dei uns dinheiros ao Moisés das prestações. Dr. Gouveia há de ter paciência: espera mais uns dias. Deixarei de andar pela rua do Sol para não encontrá-lo. O que não posso é esconder-me de Moisés."
  • A impressão que dá aos leitores é que evita falar sobre o assunto central do livro, devaneia, esconde-se.
  • O constrangimento entre Luís e Moisés desaparece e ambos encontram o Chefe da Polícia, o que causa medo em Luís.
  • Moisés põe-se a andar com ele e, na praça Montepio, faz discursos contra a violência e o governo. As lembranças do tempo de menino enchem de novo sua cabeça
  • Tudo se confunde e rompe a linha do tempo com violência.
  • Apresentação da criada Vitória,  é meio surda e possui um papagaio inteiramente mudo a quem pretende ensinar palavras, versos.
  • Conta também que, apesar de nunca ter navegado, sabe - porque lê os jornais - todas as entradas e saídas do porto, repete as notícias importantes, como a chegada do arcebispo do Rio de Janeiro.
  •  Luís lia à sombra da mangueira, Moisés e Pimentel apareciam para conversar, ele escrevia poemas ou artigos por dez ou quinze mil-réis.
  • Aqui, pela primeira vez, aparece Marina: "Foi numa dessas suspensões que percebi um vulto mexendo-se no quintal da casa vizinha. Como já disse, existe apenas uma cerca separando os dois quintais. Do lado esquerdo há um muro, e ignoro completamente o que se passa além dele.(...) O vulto que se mexia não era a mulher idosa: (...)”
  • Começo do drama do narrador-personagem.
  • Ao perguntar pela antiga vizinha que cuidava das roseiras ao lado, fica sabendo por Vitória que tinha morrido.
  • Confessa que passara tempos tenebrosos, impelido para as mulheres que "tinham cheiros excessivos." Acrescenta "Um rato roia-me por dentro."
  • Narra a primeira experiência com prostitutas, e vê-se aí que tem uma auto-estima baixa.
  • Aqui, fica-se sabendo que o narrador mora na rua do Macena, perto da Usina elétrica e que paga ao doutor Gouveia 120 mil-réis de aluguel.
  • Luís conhece Marina e acrescenta que o que o desgostava nela era a frivolidade e as inclinações imbecis ou safadas.
  • Marina mostra admiração por D. Mercedes, uma espanhola madura, amigada em segredo com um oficial. Luís a repreende, mas ela insiste em dizer que D. Mercedes é o máximo.
  • Foi por esta época que Julião começou a freqüentar a casa de Luís. Os jornais falavam muito bem dele, mas para o narrador era tudo mentira. "Era um sujeito gordo, vermelho, risonho, patriota, falador e escrevedor."(...)
  • A antipatia por Julião foi se tornando funda. Visitava Luís com frequência e tirou a liberdade dos amigos que lá compareciam."O homem do Instituto atrapalhou-me a vida e separou-me dos amigos."
  • O judeu era loquaz, socialista, bom de conversa sobre revoluções; seu Ivo se metia na cozinha, pedindo um prato de comida para Vitória. Diferente de todos naquela casa, gordo e falador, Julião era um incômodo: era amável em demasia."Comecei a odiar Julião Tavares.”
  • D. Adélia, pede que Luís arranje um emprego para a filha.
  • Luís responde que é um pobre coitado, que não pode fazer nada
  • Seu Ramalho, pai de Marina, queixa-se da filha, diz que ela nunca quis estudar; gasta com sapatos e roupas e acrescentou: "O homem que casar com ela faz negócio ruim."
  • Luís tenta arranjar emprego para Marina e, como sempre, à tarde, deita-se na espreguiçadeira sob a mangueira. Marina aparece.
  • Luís fala com ela sobre o emprego, ela se aproxima e ele a morde nas mãos, enlouquecido de desejo: "(...) abracei-a, beijei-lhe a boca, o colo. Enquanto fazia isto, as minhas mãos percorriam-lhe o corpo. Quando nos separamos, ficamos comendo-nos com os olhos, tremendo. Tudo em redor girava. E Marina estava tão perturbada que se esqueceu de recolher um peito que havia escapado da roupa."
  • Luís compara-a à Berta, uma prostituta que um dia ele teve para si.
  • O narrador faz comentários gerais: que defronte à casa dele veio morar uma família: três moças e um velho e logo começaram a circular uns boatos, dando conta de que as meninas eram amantes do homem que logo passou a ser chamado de Lobisomem.
  • À noite, quando conversava sobre o fato, Julião Tavares toma o incesto como normal, o que irrita enormemente o narrador.
  • Marina e Luís continuavam a se encontrar depois da meia-noite sob a mangueira.(proposta de Luís para Marina entrar em sua casa) - Casamento
  • Recordações: Luís usa adjetivos terríveis: preguiçosa, ingrata, leviana.
  • Diz, no entanto, que era muito limpa e meiga.
  • No outro dia pediu a mão de Marina à mãe, entregou os 500 mil-réis para as compras do casamento, "gente pobre não tem luxo." E foi para a repartição, feliz.
  • Na rua, encontrou Julião Tavares, desviou-se e foi para a repartição.
    O cego dos bilhetes entrou anunciando o número da loteria : 16.384.
  • Aqui, revelam-se os sentimentos do narrador. Ao se recordar, dá-se conta de que se tivesse dinheiro, teria tido para si, certamente, Marina, que era interesseira, vulgar e dada a uma imensa preguiça.
  • Dias depois, Marina chama-o para ver o que comprara com o dinheiro dado por ele: "Não era quase nada: calças de seda, camisas de seda e outras ninharias."
  • A contragosto, aprova as compras dela. E aceita as críticas que faz às suas golas puídas, aos sapatos cambados.
  • Compra roupas e camisas e dá as suas ao Seu Ivo
  • Para agradar Marina, liquida a conta no banco e compra-lhe um relógio-pulseira e um anel. Sobraram-lhe míseros vinte mil-réis.
  • Decepção quando vê Julião olhando para Marina “Empurrei a porta brutalmente, o coração estalando de raiva, e fiquei em pé diante de Julião Tavares, sentindo um enorme desejo de apertar-lhe as goelas.O homem perturbou-se, sorriu amarelo, esgueirou-se para o sofá, onde se abateu.(...) Canalha. Meses atrás se entalara num processo de defloramento, de que tinha se livrado graças ao dinheiro do pai. Com o olho guloso em cima das mulheres bonitas, estava sempre precisando uma surra. E um cachorro daqueles fazia versos, era poeta."
  • Luís se irrita com a desfaçatez de Julião. E as lembranças da infância, outra vez, se juntam às do presente: ele se lembra do dia em que o avô, Trajano, estava dormindo no banco do alpendre e uma cascavel se enrolou ao pescoço dele.
  • Por fim, cansado de escutar a voz melosa e estúpida do rival, solta um sonoro 'puta que o pariu'.
  • Julião agarrou o chapéu e saiu.
  • Luís toma aguardente, janta e sai para a rua. Não cumprimenta Marina, que estranha seu comportamento. No centro, encontra-se com uma prostituta pobremente magra e tuberculosa. Em vez de fazerem sexo, conversam no humilde e pobre quarto para onde fora levado por ela.
  • Marina convenceu Luís de que ele não tinha razão: disse que não podia impedir que Julião Tavares olhasse para ela. E Luís entrega-lhe, convencido, a lembrança que comprara para ela.
  • Luís fala em marcar a data do casamento, ela objeta, dizendo que ainda borda umas almofadas.
  • À noite, Marina ficou a visita toda de Luís de olhos fechados estendida na cadeira, sem o anel ou relógio, parecendo que sonhava.
  • O narrador, do tempo presente, nos observa: "- Escolher marido por dinheiro. Que miséria! Não há pior espécie de prostituição."
  • Aos poucos, deixaram de falar sobre casamento. E pelo menos um dia da semana, quando Luís deixava o serviço fora de hora, ia apanhar os dois, Julião e Marina, aos namoricos.
  • D. Adélia defendia a filha, justificando que era a mocidade.
    À noite, sozinho na casa insuportavelmente cheia de ratos, Luís ouvia a tosse de seu Ramalho e os rangidos da rede onde dormia Marina.
    "Assaltava-me o desejo de ver Julião Tavares sujo de azeite e carvão, recebendo na cara as faíscas da fornalha. Por que não? Derretendo as banhas. Inútil, preguiçoso, discursador. Canalha."
  • Distanciaram-se, Marina e Luís, aos poucos: "Um mês depois éramos inimigos.(...) Marina estava realmente com a cabeça virada para Julião Tavares.(...) O sem-vergonha metera-se na casa, ficava lá horas, íntimo da família, unha com carne. Empurrava a porta, entrava como se aquilo fosse dele. Seu Ramalho nem se voltava: debruçado à janela, aperreado, fumando cachimbo, mordia os beiços, encolhia os ombros. Vinha conversar comigo, desabafava: - Não se case, seu Luís. É o conselho que lhe dou."
  • Julião ia se fazendo cada vez mais íntimo da casa, das duas mulheres: quando ia jantar, mandava, durante o dia, latas e garrafas e embrulhos. O narrador registra que seu Ramalho não tomava parte "dessas orgias".
  • Luís ficava ouvindo as vozes e zanzava de um lugar para outro, inquieto feito um bicho.
  • Aos domingos, Marina e Julião iam ao cinema de braços dados, bancando marido e mulher.
  • O narrador pensa na datilógrafa que ele conhecia. Invade-o uma ternura pela honestidade dela, acha que se escolhesse uma mulher assim, tão simples, recatada e honesta, seria feliz.
  • Seu Ramalho sentava-se na calçada e conversava com Luís. Depois entrava e zangava-se com a mulher: por que estaria a filha ausente?
  • Luís passava perto da porta de Marina e desejava reconciliar-se.
  • "As mulheres não são de ninguém, não têm dono."
    A vizinha D. Rosália e o marido, que era caixeiro-viajante, fazem sexo todas as noites. Todos escutam o barulho, os beijos, o rebuliço e o gemer da rede.
  • Luís pensa que Marina poderia voltar para ele. Talvez com a intenção de humilhar Julião Tavares.
  • Depois de procurar por mais de um mês uma aproximação com Marina, desiste. Confessa que há, nas suas recordações, lacunas e  hiatos
  • À noite Luís e seu Ramalho sentavam-se na calçada e falavam sobre a vida, sobre Marina, sobre como as mulheres são volúveis.
  • Chega à cidade a companhia lírica. Marina e Julião Tavares vão à ópera todos os dias, ela vestida de seda e pele, maquiada, bem cuidada.
  • O narrador se sente muito infeliz, impotente.
  • Desesperado e sem dinheiro para ir ver tal acontecimento, Luís perambula pelas ruas, vai aos lugares mais ordinários, bebe aguardente: infância e vida adulta que se aproximam: "Sempre brinquei só. Por isso cresci assim, besta e mofino."Julga-se um cabra, um roceiro, um infeliz que gosta de ler romances, mas nem culto é.
  • Quando , no último dia da apresentação da companhia lírica, o carro de Julião chegou, Luís se sentiu o mais infeliz dos homens.
  •  Depois de experimentar pensamentos amargos, foi à caça das moedas que Vitória depositava na horta. Cavando com as mãos, no escuro, sentia-se como um ladrão, mas acreditava que, indo ao teatro,Marina voltaria para ele."Tantos tormentos por causa de uma fêmea!”
  • Depois de apanhar as moedas, foi ao teatro, com as unhas ainda sujas.
  • Quando recebeu o salário, pagou Vitória em dobro, isto é, devolveu os vinte-mil-réis furtados dela em dobro.
  • Teve medo de que ela, ao contar, achasse mais algumas moedas e identificasse o que houvera acontecido. Mas Vitória tinha percebido a trama. E tinha, por isso mesmo, envelhecido e perdido todo o sossego.
  • A vingança permeia os pensamentos de Luís, tem sempre a impressão de que está cercado de inimigos.
  • Ao perambular pela rua, dá de encontro com uma mulher grávida acompanhada por uma criança.: feia, disforme, horrível. Está clara a analogia com a gravidez de Marina, de que ele soube, pelo que revirou a alma, planejando, então, a vingança. "Eu fervia de raiva. Se tivesse encontrado Julião naquele dia, um de nós teria ficado estirado na rua."
  • Luís estava notando, na casa ao lado, um silêncio diferente. Quando estava no banheiro, separado pela mesma parede ao de Marina, podia ouvi-la espalhafatosamente escovar os dentes e se lavar.
  • Marina tinha perdido a alegria e o estabanamento. Isso cortava o coração de Luís que começou a desconfiar que algo andava errado."Estava agora ali, enojada, cuspindo, apalpando a barriga e os peitos entumescidos. E o pranto subia e descia, era às vezes um lamento de criança fatigada, outras vezes os soluços rebentavam, numa rajada de gritos histéricos e bestiais."
  • Marina gritava culpando a mãe por tudo.
  • "Era evidente que Julião Tavares devia morrer."
  • Esse é o pensamento que passa, agora, a dominar a mente de Luís. E outra vez conta a história da cascavel enrolada no pescoço do avô.
  • Seu Ivo apareceu faminto, meio nu e meio bêbado.
  • Enquanto Vitória esquentava o jantar para ele, estendeu um presente para Luís da Silva: uma corda.
  • "- Não quero. Tire isso depressa. Evitava dizer o nome da coisa que ali estava em cima da mesa, junto ao prato de seu Ivo.(...) Era um rolo pequeno, inofensivo. Logo que se desenroscara, dera-me um choque violento, fizera-me recuar tremendo. Antes de refletir, tive a impressão de que aquilo me ia amarrar ou morder."
  • A corda tomou corpo, confundiu sentimentos e, por fim, colocou-a no bolso: "O coração batia-me desesperadamente."
  • Luís passa a seguir Marina e Julião, imaginando o que poderia acontecer se o matasse.
  • Imaginava-se preso, atrás das grades nojentas. O narrador nos conta que tem por hábito, atualmente, lavar incessantemente as mãos.
  • Na repartição, obtinha algum sossego.
  • Em casa, pedia para Vitória comprar cigarros. Emagrecia demais
    Saía à rua, falava com Moisés. E planejava a morte de Julião, em seu nome e em nome de Marina. Em nome de todos os ódios que ele tinha do mundo.
  • Seguindo Marina, viu-a entrar na casa de Albertina - (fazia abortos).
  • Espera: bebeu cachaça. E quando Marina saiu, mortalmente pálida, muito tempo depois, seguiu-a e xingou-a pelo caminho: Puta, puta, puta!!!
  • Investigando Julião,  Luís descobriu que ele tinha feito nova conquista.
  • Pensou, de repente, na secretária de olhos tristes."Apalpava a corda. Mexia-me lentamente, pensava nos cabras que meu avô livrava peitando os jurados ou ameaçando a cadeia da vila. "
  • Descobriu quem era a nova vítima: uma pobre moça sardenta e engraçada que trabalhava numa loja de miudezas.
  • Descobriu também que Julião Tavares visitava a moça e voltava de madrugada, a gola erguida para ninguém reconhecê-lo.
  • Indignava-se Luís, e a cada dia mais crescia nele o desejo de vingança.
  • Segue Julião em mais uma visita à moça sardenta. Espera que ele saia.
  • Emboscada: leva a corda no bolso.
  • As lembranças aqui são terríveis, em fluxo contínuo, devastadoras.
  • Depois que mata Julião, em meio às árvores, simula que este enforcou-se. Lacera as mãos, estraçalha as palmas, rasga as calças e quase perde o chapéu.
  • Por fim, na madrugada, chega em casa: é um homem falido.
    Imagina que, se descoberto, pegará 30 anos de cadeia.
  • Com as mãos estraçalhadas, a cabeça explodindo, cansado e sujo, pede à Vitória que avise a repartição que está doente.
  • Febre, se sente tão doente que nem tem fome.
  • Marina está distante, e voltamos ao começo do romance.
  • O narrador está se refazendo aos poucos, depois de longa doença de quase dois meses.
  • Grande confusão mental: passado e presente

VII– Considerações finais

  • Uma explicação sexual : a essência do erótico está no esconder-se.

 

“O amor para mim sempre foi uma coisa dolorosa, complicada e incompleta.”

 

  • Três aspectos sexuais de seu abafamento:
  • Infância : “Sempre brinquei só. “
  • Isolamento imposto pelo pai
  • Solidão em que sempre viveu

 

  • Três símbolos fálicos:
  • As cobras da fazenda do avô
  • Os canos de água de sua casa
  • A corda

 

Obsessão da água purificadora

 

“Lavo as mãos uma infinidade de vezes por dia, lavo as canetas antes de escrever, tenho horror às apresentações, aos cumprimentos, em que é necessário apertar a mão que não sei por onde andou... Preciso muita água e muito sabão.”

 


“Minha mão está suja.               – banheiro desempenha papel

Preciso cortá-la.                          importante.

Não adianta lavar.                      – drama coletivo

A água está podre.                      – gente acuada, esmagada pela

Nem me ensaboar.                      vida.

O sabão é ruim.                          – falta de equilíbrio emocional.

A mão está suja,

Suja há muitos anos.”

                       ( Drummond )

 


 

 

Fonte do documento: http://www.objetivoitajuba.com.br/caro/downloads/resumosgilmar/Ang%C3%BAstia.doc

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