Glaura resumo

 


 

Glaura resumo

 

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Glaura resumo

 

GLAURA

I - O AUTOR(1749, em Vila Rica)

  • Aprendeu a tocar flauta e rabeca.
  • Freqüentou os estudos preparatórios no Rio de Janeiro, destacando-se pelo conhecimento musical, pela inteligência ágil e pela elevada estatura.
  • Como sua origem era simples, recebeu ajuda para fazer os estudos superiores na Europa, na Universidade de Coimbra.
  • Lá conheceu o Basílio da Gama e Alvarenga Peixoto — que seria degredado após o episódio da Inconfidência Mineira.
  • Em Portugal, teve intensa atividade intelectual, tornando-se admirador de Pombal, a quem homenageia no poema O desertor, publicado em 1774
  • Concluiu o curso de Cânones (Direito) e retornou ao Brasil, em 1777.
  • Exerceu advocacia e ministrou cursos de Retórica e de Poética.
  • Quase dois anos depois de deixar a prisão, em 1799 publicou Glaura, em que fica patente a sua ardente musicalidade e o domínio da técnica literária, assimilada na leitura dos clássicos Anacreonte, Ovídio, Teócrito, Virgílio e dos neoclássicos italianos, como Metastasio e Paolo Rolli
  • Mais tarde, ajudou a fundar a revista literária brasileira, O patriota.
  • Morreu no Rio de Janeiro em 1814, solteiro, sem deixar filhos.
  • Para o crítico Hernani Cidade, mostrou-se integrado na cultura enciclopédica do Séc. das Luzes, mas  atento à realidade brasileira, por ter inserido, na forma Árcade, entre Zéfiros e Ninfas, o beija-flor e o cajueiro.
  • É o poeta neoclássico que mais se aproxima da sensibilidade romântica.
  • Fábio Lucas considera-o um poeta satírico, didático, utilitário, encomiástico, lírico, rebelde e renovador.

 

II - A Época e o Estilo

  • Reação aos exageros do Barroco
  • Volta aos modelos clássicos greco-romanos e renascentistas
  • Ordem direta da frase, com uso do verso branco
  • Arte voltada para o Belo, Bem, Perfeito e Equilíbrio
  • Bucolismo, pastoralismo e Mimesis.
  • Motivos Clássicos: Fugere Urbem (fuja da cidade); Locus Amoenus(lugar tranqüilo); Aurea mediocritas(Busca do equilíbrio); Carpe Diem(Aproveite o dia) e Inutilia Truncat(Acabem-se com as inutilidades).
  • Surge na época o Rococó, que alguns críticos observam em Gonzaga e Silva Alvarenga, onde são acentuados certos traços arcádicos, abusando da linguagem melodiosa, mesclando natureza e volúpia, excedendo-se na afetação lírica, registrando cenas íntimas e domésticas, valorizando as miniaturas, os minuetos musicais, as porcelanas, as máscaras e os disfarces.

 

  • Com Glaura, realiza a sua mais característica poesia lírica, fruto do movimento arcádico ou neoclássico.
  • O livro é composto por 60 rondós e 57 madrigais.
  • De acordo com os princípios estéticos neoclássicos, o poeta não possui liberdade total de composição.
  • Os poemas de Glaura obedecem a uma moldura: todos são rimados e metrificados, submetidos ao formato do rondó e do madrigal.
  • O rondó, de origem francesa, já traz no nome a idéia de circularidade, Em sua maioria, ele é composto por treze quadras, sendo que o estribilho (refrão) abre e fecha a composição, além de aparecer três vezes após duas quadras. Quanto à métrica, a maioria dos rondós exibe a redondilha maior.
  • Já os madrigais são compostos, geralmente, de oito a onze versos, numa só estrofe, alterando hexassílabos com decassílabos.
  • Os poemas de Silva Alvarenga trazem os principais elementos estéticos da literatura pastoril, apoiando-se na simplicidade, na claridade do pensamento, bem como nas constantes referências à mitologia clássica: “Não recreiam sempre os montes// Co’as delícias de Almatéia;

Vem, ó Glaura, a ruiva areia,// Rio e fontes animar.”

  • Nesse trecho do Rondó VI “A praia”, o poeta faz referência à cabra que amamentou Zeus.
  • Ao longo da obra, há várias referências à mitologia greco-romana (Ninfas, divindades úmidas e fecundas; Napéias, ninfas dos vales e pradarias; Dóris, mãe das nereidas, as ninfas do mar; Galatéa, uma das nereidas, que foi amada do ciclope Polifemo; Orfeu, o cantor que foi ao Inferno em busca da mulher Eurídice, etc, etc.).
  • O poeta delega sua voz lírica ao Pastor Alcindo(alter-ego), que finge viver numa suposta Arcádia, entre grutas, brenhas, Ninfas.
  • Sua amada é Glaura, nome fictício de mulher, talvez inspirado na Laura de Petrarca, poeta do pré-classicismo italiano; talvez em Clara ou Laureana, suposta namorada de Silva Alvarenga, falecida no RJ.
  • Há críticos que até questionam a existência real da amada.
  • Para Antonio Candido, não importa se os textos foram ou não inspirados em um amor infeliz, “o fato é que não se sente aqui a presença dela pois não se traça uma só vez um retrato realista da amada. Poeticamente, Glaura tornou-se um mito, inspirando muitos nomes, até mesmo de pessoas que não nasceram, como em “Nana para Glaura”, de José Paulo Paes de onde colhemos essa quadra:

“Dorme quem// nem os olhos abrisse

por saber desde sempre// quanto o mundo é triste.”

  • Esse clima triste e lírico é o que prevalece em Glaura.

 “Toma a lira, Alcindo Amado,// Neste prado Glaura canta;

Ah! levanta a voz dívina,// E me ensina a suspirar.”

  • Importante: embora repleto de elementos convencionais do Arcadismo, o livro chama nossa atenção para aspectos da paisagem nacional (cajueiro, mangueira, jasmineiro, jambo, Gávea, Jequitinhonha), bem como referências aos meses em que o calor brasileiro começa e atinge a plenitude (agosto, dezembro e fevereiro).
  • O madrigal XLIX, por exemplo, exibe a mescla de elementos convencionais com aspectos brasileiros:

“Flexível Jasmineiro,// Cobre os teus ramos de cheirosas flores:

Favônio lisonjeiro// Já torna a ver as Ninfas e os Pastores.

Glaura, vem; terno Amor, ah! que favores

Não espera alcançar um puro amante?

Neste ditoso instante// Foge veloz o ardente Fevereiro.

Flexível Jasmineiro, Cobre os teus ramos de cheirosas flores;

Que elas hão de adornar os meus Amores.”

  • O vento austral (Favônio), os Pastores e as Ninfas (divindades dos bosques) misturam-se com elementos brasileiros, como o Jasmineiro e o quente mês de Fevereiro
  • A forma do madrigal (uma estrofe com versos hexassítabos e decassílabos), embora mais flexível que a do rondó (geralmente quadras heptassílabas seguidas de estribilhos), exemplifica o formato neoclássica.
  •  Alguns críticos, com certo exagero, vêem a manifestação pré-romântica nesses índices de nativismo.
  • Para José Aderaldo, tais elementos “nativistas” são componentes de uma paisagem propícia aos idílios, constituindo apenas “cor local” destituída de sentimentos e sem intenções de adequar a nossa paisagem aos ideais da paisagem-modelo arcádica.
  • Alvarenga pode ser sim, um precursor romântico, não simplesmente por citar plantas e frutas, mas por trazer um lirismo lânguido, meloso, extremamente musical, que contagiará as futuras baladas e serenatas.
  • Destaca-se também o fato de ser ele “o único árcade que deixa de lado carneiros e ovelhas”, já que em seu bestiário entram cobras, onças, panteras, morcegos, pombas e beija-flores.
  • Em seus textos teóricos sobre a arte, Silva Alvarenga aconselhava que o poeta precisa seguir as leis mais simples da própria natureza.
  • Tanto a pintura quanto o fato narrado deveriam brotar de forma espontânea da composição. Era preciso evitar a exibição erudita, responsável por tornar o texto artificial demais.
  • Sua subjetividade sentimental, abundante em interjeições, prenuncia o clima romântico e evoca as serestas, visível no rondó L, “A Lua”:

“Como vens tão vagarosa,// Ó formosa e branca Lua!

Vem co’a tua luz serena// Minha pena consolar.

Oh que lúgubre gemido// Sai daquele cajueirol

E do pássaro agoureiro// O sentido lamentar.”

  • Para Luís André Nepomuceno parece ser exagerado o rótulo de pré romântico: “Silva Alvarenga, longe das disposições subjetivas que lhe foram atribuídas pela crítica romântica e pós-romântica, é poeta canônico, horaciano, formado à luz das poéticas de Boileau e de Cândido Lusitano, e tem como princípio, na poesia lírica, um padrão estético puramente cortesão. Também longe do intimismo que lhe foi atribuído, toda a sua poética, mesmo nos versos de maior sensibilidade é configurada sob um jogo de artificialismos e convenções que determinam uma espécie de controle metódico e teórico da expressão. Mesmo nos rondós que se referem à morte de Glaura (os dez últimos), a conduta do poeta é sempre o redimensionamento de velhos temas arcádicos e  petrarquistas”

 

III - O Gênero Literário

  • Glaura é um livro de poesia. É uma obra lírica, centrada no amor, na musicalidade, na confissão de sentimentos íntimos: a exaltação da mulher amada, a expectativa ou a esperança de possuí-Ia, o medo de perdê-la, a lamentação de sua ausência, o choro por sua morte.
  • O conteúdo do livro é relativamente fácil, até monótono.
  • O leitor há de captar, principalmente, a notável sonoridade, a exploração das rimas internas, os ecos, as repetições.
  • Na opinião de alguns estudiosos, o livro traz, em verdade, um poema único, ou uma série de variações sobre o mesmo motivo.
  • Com exceção dos rondós de XLIII a XLVII, que ora são em redondilha menor (pentassilábicos) ou hexassilábicos, bem como apresentando os estribilhos em dísticos, todos os rondós de Silva Alvarenga seguem o esquema de 13 quadras, com o estribilho aparecendo 5 vezes, o qual sempre apresenta rimas internas (A,A’, B B’, C C’, D), como no exemplo abaixo, do Rondó XXVIII “Dezembro”:

“Já Dezembro mais calmoso// Preguiçoso o giro inclina:

Ilumina o Céu rotundo,// Quero mundo incendiar.”

  • Observe que o estribilho vem sempre com as letras em itálico e exibem rimas internas: calmoso/preguiçoso; inclina/ilumina; rotundo/ mundo.
  • A rima interna ocorre sempre na terceira sílaba poética.
  • A última palavra do estribilho (no caso, incendiar) rimará sempre com a última palavra de cada quadra do rondó, como a que transcrevemos abaixo, do mesmo poema:

“Vem, Pastora; aqui te esperam// Os prazeres deste rio;

Onde o Sol e o seco Estio// Não puderam penetrar”.

  • As quadras “normais” (sempre em número de oito) não são grafadas em itálico, e sempre apresentam rimas emparelhadas no segundo e terceiro versos; a única rima interna ocorre em relação ao primeiro e ao último versos da quadra: esperam/puderam.
  • Observe que o último verso do estri- bilho tem a mesma rima do último verso da quadra “normal”: incendiar/ penetrar. O madrigal, que não tem nome, mas só número, apresenta versos heterométricos, isto é, de métrica variada, pois mescla versos de 10 com versos de 6 sílabas.
  • Veja como o esquema de rima é variado, sem rimas internas, como no primeiro madrigal do livro, cujo esquema rítmico é ABBAACCDD:

“Suave fonte pura,// Que desces murmurando sobre a areia,

Eu sei que a linda Glaura se recreia// Vendo em ti os seus olhos a ternura;

Ela já te procura;// Ah! como vem formosa e sem desgosto!

Não lhe pintes o rosto:// Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade

Meu terno amor, minha infeliz saudade.”

 

IV – O Título: Apenas o poeta e sua pena

  • Glaura, nome de mulher, é a pastora por quem o eu poético se enamora
  • O título, portanto, concentra o nome do objeto amoroso, quase sempre esquivo, distante, ausente, rigoroso, não receptivo e, por fim, morto.
  • Raros são os poemas em que o nome de Glaura não aparece, assim como pouco freqüentes são os textos em que a felicidade supera a tristeza.
  • Quando ocorre maior proximidade (para não dizer contato sexual) entre o eu-lírico e Glaura, o poeta recorre à metamorfose ou alegoria, como nos rondós intitulados “Beija-Flor” ou no rondó “O pombo”.
  • Esses poemas são ótimos pretextos para breve incursão em torno do nome de Glaura: magia lírica emana desse nome, que traz eco de Laura, musa de Petrarca, que rima com aura, a brisa, o sopro, a aragem, mas que é também halo luminoso, força espiritual.

“Deixo,ó Glaura, a triste lida// Submergida em doce calma;

E a minha alma ao bem se entrega,// Que lhe nega o teu rigor.//

Neste bosque alegre e rindo// Sou amante afortunado;

E desejo ser mudado// No mais lindo Beija-flor.//

Todo o corpo num instante// Se atenua, exala e perde:

É já de oiro, prata e verde// A brilhante e nova cor.(...)”

  • Glaura lembra ouro e louro, a árvore dedicada a Apoio, o protetor das artes
  • Glaura está contida dentro do nome de ALVARENGA
  • Com as letras de Glaura se escreve “alugar”, como se o poeta locasse as convenções artificiais do arcadismo (fontes, grutas, ninfas, cupido, etc.) para dissimular sua grande dor, sua insatisfação existencial, social, política.
  • Glaura é nome que lembra algar, gruta, caverna (como laúra, caverna ou buraco em que se refugiavam os místicos).
  • Glaura, afinal, afina-se com augúrios, pressentimentos.
  • Personagem-presságio de uma imaginação obcecada, que alegra e que alaga de lágrimas o seu pastor que só vive de suspiros poéticos e de saudades, prenunciando o Romantismo.
  • Em alguns rondós, podemos associar o lamento do Pastor com a sua biografia. Ao referir-se à Inveja, com letra maiúscula, poderíamos ter uma chave para o nome de Glaura: na mitologia clássica, conforme se lê nas Metamorfoses, de Ovídio, Agtaura foi punida por ter inveja de sua irmã Herse, amada por Mercúrio; como castigo, ela foi transformada em estátua:

 “Nestes campos, nestes vales//A calúnia, e o monstro fera..

Mas, ó Céus! para que quero//Tristes mates recordar? (Rondó “Ao Autor”)

  • Os agentes da repressão podem ser relacionados a essas personificações.
  • A pergunta sobre recordar os tristes males está diretamente associada à primeira epígrafe do livro, extraída de versos de Ovídio, de sua obra Os tristes, escrita quando esse poeta latino encontrava-se exilado: “Peço ao verso o esquecimento das misérias, dando-me por pago se consegui-lo.”
  • Assim, a intenção explícita de Alvarenga é a de escrever um livro sobre o amor ( Glaura), buscando esquecer os fatos que lhe fizeram sofrer.
  • Mas Glaura é ficção e aflição; é o lugar da memória e do desejo; é o emblema da interdição (da liberdade? de Eros? do livre pensamento?).
  • Glaura é o poeta na gaiola, apenas com sua pena, seja ela punição, sofrimento ou instrumento de escrever.
  • Glaura é o grito possível de um poeta murado em sua gruta, dentro de uma sociedade repressora.
  • O Rondó IV, “O Pombo”, oferece, numa leitura superficial, um exemplo de poesia rococó, afetada, a respeito de um pombo desaparecido, que teria magoado Glaura e o poeta. Eis o estribilho:

“O meu Pombo, a quem amava,//Igualava ao branco arminho:

Do seu ninho (oh desventura!)//Que mão dura o foi roubar?”

  • No poema, o pombo, objeto de amor, é caracterizado por ser branco, puro (sua plumagem iguala-se à do mamífero de pêlo branco).
  • A desventura do sujeito poético é que o pombo fora roubado de seu ninho por uma mão dura, cruel.
  • A metonímia da mão, ligada metaforicamente ao pombo, pode remeter a uma interpretação sexual. Mas não é difícil enxergar que a supressão da ave de seu ninho está diretamente ligada à idéia de prisão. Outra estrofe:

“Na manhã clara e serena,// Se o achava dormitando,

O seu sono doce e brando// Tinha pena de turbar.”

  • O pombo, em estado de repouso, num ambiente marcado pelo sossego e doçura, desperta pena no poeta, que não deseja perturbar sua paz.
  • Na convenção árcade, é o locus amoenus, contrastando com o eu-lírico, que tem o poder de quebrar essa paz.
  • Observe que o verso final, sozinho, sugere a interpretação de que a pena (tinta, escrita) do poeta pode turbar, isto é, agitar, transtornar, turvar, enfim, aquele plácido sossego..
  • A próxima estrofe fala do biquinho que a ave abria para sanar sua fome
  • . Consumir-se de saudade de um pombo é algo exagerado...A não ser que esse pombo seja algo que se ligue a Glaura, ou mais exatamente, à pomba de Glaura.
  • O bico ávido da ave sempre prestes a saciar sua fome, como papel ávido de palavras. Mas, como era esse pombo?

“Era manso, era amoroso,// E as carícias conhecendo,

Desejava estremecendo// Ser mimoso em agradar.”

  • A ligação entre o poeta e o pombo se dá pela afetividade; mansidão, carinho, delicadeza, desejo de agradar, tudo isso marcado pelo frêmito, pelo tremor, pela vibração erótica.
  • Ao longo de Glaura, encontramos muitas vezes o verbo agradar.
  • Escrito por quem esteve engaiolado, só vendo grades, não nos parece verbo tão inocente.
  • E considerando a poesia laudatória do poeta, “ser mimoso em agradar” é um verso auto-definidor. D. Maria I que o diga, pois ela foi reverenciada por Silva Alvarenga e, graças a ela, o mineiro deixou a prisão.
  • A outra quadra refere-se à floresta. O poeta é quem está no ambiente selva (Silva vem de selva, floresta), já tendo um mau pressentimento de que algo acontecerá com o pombo, que deve ser visitado na hora quente do dia, com mais carinho.
  • O aspecto táctil é bem marcante no texto. O termo “pressago” traz augúrios, traz, pela primeira vez no poema, o nome de Glaura, que aparecerá na próxima quadra;

“Glaura, oh Céus! por que cedeste //A meus rogos? dize agora, “Pobres dons duma Pastora Não quiseste conservar!”

  • Se havia qualquer dúvida quanto à simbologia do pombo, ela agora se desvanece. O desaparecimento da ave (no nível do “enredo” e no nível textual) traz Glaura, não inflexível, distante, rigorosa, mas, muito antes pelo contrário: Glaura cedeu!
  • Ela foi receptiva aos rogos do poeta; ela deveria, então, lamentar-se, queixar-se do amado que não quis conservar os dons da Pastora, a sua honra, a sua virgindade...Sexual ou social ou política, configurou-se a transgressão.
  • Por mais que o poeta queira esquecer a transgressão, ele não consegue; cada verso é como se fosse o lenitivo, mas também é veneno, que mais aguça o sofrimento.
  • O estribilho traz de volta o  pombo, mas a próxima quadra, em vez de ave, vae (ai, lamento em latim):

“Não me alegra o doce encanto,// Nem afino a curva Lira,

Tudo sente e tudo inspira// O meu pranto, o meu pesar.”

  • O encanto de Glaura não alegra o poeta. A sua poesia desafina-se.
  • Tudo é contagiado pelo seu sofrimento, pelo seu pesar.
  • A curva lira clássica, que deveria fazer ecoar um discurso reto, dobra a possibilidade de leitura; a interpretação torna-se sinuosa.
  • As lágrimas são por Glaura? “Pela vida que poderia ter sido e que não foi”, como diria outro Manuel? Antes de ser fechado com o estribilho que traz o pombo de volta, o rondó termina numa espécie de chafariz infeliz:

“O destino por piedade// Me converta em pura fonte,

Porque possa neste monte//A saudade eternizar.”

  • Transformar-se em fonte e perpetuar a saudade, jorrando, jorrando...
  • O desejo do poeta é ânsia de purificação, a redimi-lo de outros jorros pecaminosos? A atividade de escrever não seria metáfora de um líquido que se perpetua no papel? Chorar por Glaura é superar a aflição do agora, esquecer o pombo e a gaiola, instalar-se no sempre, armar-se no arminho da página e na ficção da glória.

 

V – Poemas eróticos de um americano

  • O subtítulo de Glaura explicita que a obra contém poemas de amor, de lirismo amoroso - e não necessariamente lúbricos, lascivos, fesceninos, obscenos, libertinos, luxuriosos.
  • Se, na maior parte dos rondós e madrigais, o que se vê é a interdição do desejo, em certos poemas, como os dois sobre o Beija-Flor e o da Serpente, não fica difícil perceber a carga erótica.
  • No Rondó V, “A Serpente’ o susto e o prazer do poeta vão ser confiados aos elementos da natureza, o Cedro e o verde arbusto, que ouvirão a história: Glaura estava adormecida e havia uma serpente junto dela. O poeta atira uma pedra e liquida o ofídio.
  • Glaura agradece, comovida, corada, afirmando: ‘Este puro ardor me agrada, /Eu te estimo e vou te amar.”
  • Esse texto pode ser lido como uma variante do rondó do pombo, pois aqui Glaura dorme e o poeta vê uma serpente, monstro enrolado, “fero, enorme” ao lado dela, como no texto analisado, em que a presença do eu-lírico ameaçava o sono do pombo (Glaura).
  • Mas é nos rondós sobre o Beija-flor que se percebe melhor o jogo de máscaras e a sedução erótica.
  • Ao escolher o beija-flor como elemento de sedução erótica, o poeta faz jus ao epíteto inscrito no subtítulo da obra: um americano.
  • Com efeito, em vários textos haverá a presença de elementos da fauna e, principalmente, da flora, assinalando a preocupação com a cor local brasileira.
  • No Rondó VII, “O Beija-Flor”, como Glaura, rigorosa, se nega ao poeta, ele deseja ser mudado na pequena ave, para colher o néctar de sua preciosa flor.
  • E como se o seu pequeno tamanho e a sua inofensiva forma não maculassem a amada o contato sexual fica evidente, de forma táctil e gustativa:

“Toco o néctar precioso,// Que a mortais não se permite;

E o insulto sem limite,// Mas ditoso o meu ardor.”

  • O poeta/pássaro não teme a prisão (no regaço de sua amada), por isso expressa que n estima a líberdade, “busco os ferros por favor”.
  • Não se trata, evidentemente, de uma nostalgia da prisão real, mas sim do desejo de se unir à amada.
  • A quadra final evidencia que o desejo não é inocente: o Beija-Flor árcade e o célebre Pica-Flor barroco de Gregório de Matos identificam no mesmo propósito:

“Não me julgues inocente,// Nem abrandes o meu castigo;

Que sou bárbaro inimigo,// Insolente e roubador.”

  • No Rondó IX, também chamado “O Beija-Flor”, por ter tocado no “cravo rubicundo” e no “brando puro seio” da amada, acaba sendo punido por ela, que lhe arranca as penas.
  • Símbolo de castração ou de repúdio sexual, o beija-flor sem asas chora as penas arrancadas, ele que sentia a prisão como “o templo da ternura”.
  • No final do poema, ao afirmar que “Os prazeres são fingidos,/ E é verdade a minha dor.”, a perigosa e sinuosa interpretação parece ganhar uma lógica: em verdade, o poeta lamenta a prisão (que se apresentou como prazer).
  • A poesia intensamente musical de Silva Alvarenga influenciará autores do Romantismo ao Modernismo.
  • Mangas e cajus também farão parte da poesia amorosa de Silva Alvarenga, embora sem expressar o erotismo chulo que Vinícius expõe em seu “Soneto ao caju”:

“Amo vê-lo agarrado ao cajueiro// A beira-mar, a copular com o galho

A castanha brutal como que tesa:// O único fruto-não fruta- brasileiro

Que possui consistência de caralho// E carrega um culhão na natureza.”

  • No Rondó III “Ao cajueiro’ temos um curioso poema alegórico, dos poucos em que o nome de Glaura não é citado, pois o poeta parece projetar- se na árvore tropical, caracterizada negativamente de “estéril”, “semivivo”, cujos frutos são “murchos e pecos”.
  • Pomona, a deusa dos frutos e dos jardins, parece ter-se esquecido do cajueiro, que não tem cuidados de um agricultor.
  • Ele só serve para o novilho ensaiar lutas, experimentando a força junto ao seu tronco. O estribilho reitera o sofrimento do cajueiro/poeta, que brota num meio adverso:

“Cajueiro desgraçado,// A que Fado te entregaste,

Pois brotaste em terra dura// Sem cultura e sem senhor!”

  • Exposto ao ardor de Agosto, vítima do calor dos trópicos, através do cajueiro, o poeta queixa-se de seu destino (A condição de colonizado? A prisão? A origem pobre? A ausência da amada?);

“Que a Fortuna é quem exalta,// Quem humilha o nobre engenho:

Que não vale humano empenho,// Se lhe falta o seu favor.”

  • Para Luís André Nepomuceno, esse rondó tem o caráter de confissão existencial e pode ser lido sob o prisma das diferenciações culturais: o cajueiro é reflexo ideológico do caráter do poeta, uma espécie de gauche no contexto cultural da Colônia.
  • Já no Rondó XXXIII, “O cajueiro do Amor”, o quadro é diferente: félica, a árvore tem frutos amorosos em “seus ramos tortuosos”; o tronco convida a amada para a sua frescura; as folhas guardam a aura pura e doce; nele crescerá a palma da vitória do Amor; nele, há um ninho onde um passarinho aguarda as mãos de Glaura para prendê-lo.

“Se desejas a frescura// O seu tronco te convida, //

E entre as folhas escondida// Aura pura e doce está.”

  • Segundo Antonio Candido, em Silva Alvarenga é freqüente o desejo da identificação voluptuosa com passarinhos eufêmicos, forma de atenuar a agressividade da sedução.
  • Mas, em outras frutas, veremos como se processa o erotismo de A Palmireno. Por exemplo, no Rondó VIII, “A lembrança saudosa”, há todo um quadro arcádico, com Zéfiro e Ninfas.
  • E nesse cromo artificial, mitológico, há uma mangueira, cujas flores são desfolhadas pelos Amores e pelos Risos.
  • Entretanto, o que chama mais a nossa atenção são os Faunos, figuras mitológicas, metade homem, metade bode, símbolos incontestáveis da agressão amorosa:

“Os hirsutos Faunos broncos,// A quem move tal portento,

Reprimindo o tardo alento// Pelos troncos vi trepar”

  • O sujeito-poético, ao contrário, expressa timidez, medo, mudez, teme despertar a amada, mas ela acordará com gotas de lágrimas:

“Mas as lágrimas puderam// Iludir o meu receio,

E caindo no teu seio// Te fizeram despertar”

  • No madrigal VI, os Faunos, com “o sentimento agreste’ representam a sexualidade perversa do sujeito poético, cuja nome será coberto de ciprestes (árvore-símbolo da morte), em contraste com o goivo, lírios,

jasmins e rosas — vegetais associados à vida, ligadas à Glaura.

  • Mas a morte também se liga à Glaura: Fábio Lucas, analisando o madrigal LVII, salienta a “atmosfera hídrica” que enfatiza o choro’ e destaca o eco, que carrega de soturnidade a manifestação do poeta:

“Que vos prometem minhas mágoas? Águas,

Águas!...responde a gruta,// E a Ninfa, que me escuta nestes prados!

Ó águas de meus olhos desgraçados,// Correi, correi; que na saudosa lida

Bem pouco há de durar tão triste vida.”

  • Ainda que o estribilho fale que “a mangueira florida! nos convida a respirar”, a tristeza e o choro sobre o tempo que passou é um dos aspectos presentes no rondó XXXVII, “A mangueira”:

“Ao prazer as horas demos// Da Estação mais oportuna;

Que estes mimos da fortuna// Inda havemos de chorar.”

  • Enxergamos um deslocamento erótico envolvendo mangas e peixes no rondó XXVIII, “Dezembro” em que o clima tórrido propicia a preguiça e o sensorialismo, como evidencia esta quadra repleta de aliterações:

“Pelo golfo curvo e largo// Aparece a Deusa bela:

Ora a vaga se encapela,// Ora o pargo surge ao ar.”

  • Esse peixe (pargo) que desponta das águas, sutil efígie fálica,

disfarçando-se em sons melodiosos, engravidando Glaura pelos ouvidos:

“De me ouvir aos sons desta aura,// Que meneia os arvoredos,

Aprenderam os rochedos// Glaura, Glaura a suspirar.”

  • Nesse mesmo rondó, as loiras ninfas dos bosques (Dríades) perguntam por Glaura (aliás, no rondó XVII, “Dáris e Galatéla”, as ninfas do mar, também se apaixonam por Glaura); e o poeta-pastor, dirigindo-se à amada, clamando por sua presença, brada:

“Ah! cruel! Por que não vamos// Colher mangas preciosas,

Que prometem venturosas// Os seus ramos encurvar?”

  • Entende-se que, de tão carregados, os ramos da mangueira ficarão curvados de frutos.
  • Interessante notar que a fecundidade da árvore associa-se à presença física da mulher amada. E os ramos curvos possuem certa simetria com a curva Lira, em outros rondós citada.
  • Curva é a geometria do desejo. Curvo também é o nadador (o golfinho), que carregou Arion, o poeta lírico da mitologia clássica, presente no rondó LIX. Curvo é o cedro enamorado do rondó XL, “O bosque do amor”.
  • Mas é no madrigal XXIII que há curiosa relação entre a mulher e a árvore carregada de frutos:

“Copada Laranjeira, onde os Amores

Viram passar de Agosto os dias belos

Então de brancas flores// Adornaste risonha os seus cabelos.

A fortuna propícia aos teus desvetos// Anuncia feliz os novos favores:

Glaura torna: ah! conserva lisonjeira,// Copada Laranjeira por tributos,

Na rama-verde escura os áureos frutos.”

  • Afonso Arinos comenta que, nesse madrigal, a laranjeira pode simbolizar duas fases da mulher: a virgem (indicada pelas brancas flores) e a esposa (com os filhos/frutos).
  • O retorno de Glaura é a possibilidade de colher (e chupar) os frutos.
  • O elemento vegetal (como a natureza, de modo geral) é mediador na relação entre Glaura e Alcindo.
  • Um outro fruto brasileiro, o jambo, será o tema do madrigal XXIX.
  • Aqui, lembrando os jogos verbais do barroco, o poeta pede para Glaura não desprezar essa flor, pois ela é “o fruto que roubou da rosa o cheiro,/ ou a rosa transformada em doce fruto.”
  • O sensorialismo da natureza substitui a relação concreta entre o poeta e sua musa.
  • Sintetizando a presença da natureza, em Glaura, podemos indicar que:
    •  Não aparece apenas como pano de fundo ou se limita no descritivismo árcade, pois configura-se como projeção da interioridade do eu-lírico;
    • Ela é utilizada, geralmente, para significar a insensibilidade da amada, a impossibilidade da realização amorosa;
    • É o espaço para o interlúdio amoroso, constituindo um triângulo amoroso, “não conflitivo, mas em que os ângulos se completam harmonicamente”
    • E o reservatório de imagens para retratar a beleza de Glaura;
    • Ora aparece de forma convencional, trazendo elementos árcades, ora de forma brasileira, trazendo elementos de nossa flora e fauna;
    • A natureza também serve como palco para suas reflexões sobre o amor, “transformando-a numa justificativa para a realização erótica”, como assinala Luís André Nepumuceno, exemplificando com esse trecho do Rondó XIII, “A pomba”:

“Na Mangueira fazem ninho:// Vês, á Glaura, lá voltaram;

Foram juntos e pousaram// No raminho superior.

Eles tornam, par ditoso!// Dize, ó Ninfa, n te agrada

Ver a pomba acompanhada// Do amoroso rolador?”

  • Elementos da natureza ratificam a fragilidade da formosura, como no Madrigal LV, sobre a morte de Glaura:

“Ó Tempo! Ó triste Morte,// Por quem tudo se abate e se arruína,

Cai o Cedro mais forte,// E a soberba montanha o colo inclina.

O braço, que fulmina,// Sujeita o Mundo ao vosso horrível corte.

O tempo, O triste Morte,// Glaura expirou...quem julgará segura

A flor, a tenra flor da formosura?”

  • Nada é seguro na terra, nada perdura, a não ser o canto que ecoa por vales e por páginas, pois resta-nos o consolo de que “o mundo se revela no poder das auras” ou no poder das Glauras, em suas florações.

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